domingo, 25 de abril de 2010

A Passeata

O asfalto era esfarelado e irregular, parecia armazenar cada centímetro de poder do sol em suas entranhas para depois atira-lo em forma de ondas calorosas contra o comboio de pessoas. Havia de todos os tipos, homens arruinados, mulheres desesperadas, infantes de rosto sujo, com expressões que eram claramente traduzidas em dúvidas sobre quem seria o causador da tenebrosa andança.
Às janelas de algumas casas, faces mais entendidas forçavam o cenho para projetar um inexistente respeito. No entanto, era possível observar dentro das mesmas, alguns vultos onde só se distinguiam os luminosos feixes salgados das lágrimas, que escorriam pelas sinceras máscaras de tristeza.
Trajes escuros e lenços umedecidos eram como os uniformes desta distorcida passeata, que tinha como objetivo zelar pelo destino da casca que ficara, e despedir-se do conteúdo que sumira de dentro dela.
Á frente de todos, fortes braços, erguidos, levavam a retangular caixa. Era quase como se a erguessem aos céus, esperando por um divino arrebate que lhes descansariam os braços, pesados física e sentimentalmente pelo finado conteúdo que nos mesmos jazia.

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