O Crente e o Pen Drive

Estava Oséias se preparando para o culto, como de costume, quando se deu conta que havia se esquecido de comprar o bendito pen drive, que usaria para transportar os slides de sua apresentação sobre os 10 mandamentos na igreja. Faltando apenas meia hora para o culto, Oséias se via em desespero, passara dias preparando a apresentação arrojada: “É castigo” pensou, ao se lembrar dos irmãos insistindo que reconsiderasse, pensavam ser inadequado apresentar o culto utilizando desses artifícios tecnológicos, como o datashow. Oséias, no entanto, não se ateve a esses pensamentos e, quase que instintivamente saiu às ruas à procura de um pen drive, sem ter muita sorte, pois, como já devem ter conjecturado, era domingo, dia de culto, as lojas se encontravam fechadas. Depois de transitar por quase toda a rua principal, que surpresa não teve quando de longe, conseguiu avistar uma pequena loja aberta.
A loja tinha luzes fortes, de neon, mais parecendo uma boate, lia-se em sua fachada “Pura Imaginação”; Oséias de princípio desconfiou de que ali não acharia pen drive algum, pois deduziu que se trava de uma loja de fantasias ou outros itens burlescos. Ao mirar melhor o olho, avistou alguns itens eletrônicos na vitrine do local. Tratavam-se de pilhas, baterias, e alguns aparelhos aos quais não conseguiu associar uso. Sem pensar muito, ou olhar em volta, Oséias adentrou a loja, seu desespero e angústia o impediram de dar uma olhada nos produtos ostentados nas prateleiras, fazendo-o ir direto ao balcão, falar com o atendente, que possuía várias tatuagens e uma barba longa e cheia, quase não se via seu rosto. Ao encarar o balconista, Oséias iniciou o diálogo.
- Bom dia.
- Fala patrão.
- O Senhor por acaso vende pen drive?
O balconista, sondando bem a pose e figura de Oséias, hesitou em responder, fazendo entrar em contradição o seu jeito robusto e ameaçador, pois se via claramente que ficara desconcertado. Ainda que sem jeito, o envergonhado balconista respondeu:
- Olha... temos sim.
- Que bom!
- Mas é um caralhinho.
- O quê?
- O pen drive, é um caralhinho.
- O que o senhor quer dizer com isso?!
- Tem forma de pinto. Mas são dois gigabytes de espaço. Muito bom.
A situação de vergonha e embaraço havia se invertido, era Oséias agora quem se encontrava completamente desconcertado, enquanto que o balconista, após esclarecer a natureza do próprio embaraço, agora se divertia, dando uma leve risada com o lado esquerdo da boca.
- O senhor vai querer levar?
Oséias não sabia o que dizer, via-se em situação extrema, por um lado, necessitava urgentemente de um pen drive, mas não poderia simplesmente ignorar seu formato fálico e ofensivo. Só a essa altura dos acontecimentos é que Oséias se deu conta de que estava em uma dessas famigeradas “Sex Shop”, de que ouvira falar. Desesperado, e sem remédio, Oséias levou o pen drive, mas não antes de pedir ao atendente barbudo que o embrulhasse em um saco de papel escuro.
Já em sua casa, Oséias averiguou detalhadamente o fatídico objeto; era pequeno, mas rico em detalhes, com veias saltadas e uma protuberante glande servindo como tampa. Removeu a tampa/cabeça do aparelho, plugando-o em seu computador. Após transferir todos os arquivos, Oséias recolocou a cabeça/tampa de volta no lugar, e saiu disparado a caminho da igreja. Lá chegando, foi direto se aprontar para a apresentação, passando batido por irmãos e pelo pastor, que não se agradou da atitude, pois a muito esperava ansioso pela apresentação e ansiava por uma sinopse.
Datashow instalado, tudo pronto. Oséias aguardou até que as luzes se apagassem antes de retirar o falo em seu bolso. Ao apagar das luzes, retirou rapidamente o objeto promíscuo do bolso já com a tampa “arregalada”, e o inseriu no aparelho de slides. Oséias se pôs entre o aparelho de slides e o pastor, para que este – que se encontrava de pé, ao seu lado - não tivesse visão do pen drive maldito. Por toda a apresentação, Oséias se mostrava inquieto e preocupado, com medo de que alguém da platéia, ou pior, o pastor vislumbrasse o objeto de aparência erógena.
Findado o show de slides, Oséias de supetão retirou o pen drive da máquina, e o colocou no bolso, assegurando-se que nenhum olhar perambulante o avistasse. No entanto, sua alma gelou, e os pêlos de seus braços e têmporas eriçaram com a interjeição do pastor. “Por favor, Venha até meu escritório Oséias”, foi essa a frase que quase valeu a nosso protagonista um fulminante ataque cardíaco; teria o reverendo conseguido, por infortúnio, espiar o pequeno objeto ofensivo?
O escritório do reverendo era luxuoso e refinado, Oséias se sentia inadequado só te estar parado ali, meio a tanto esplendor. O pastor adentrou a sala com ar sério e decidido, fazendo os pêlos de Oséias se eriçarem ainda mais, pois se decidiria, pela atitude do pastor, de que o mesmo havia positivamente visto o pen drive sexual. O pastor, com firmeza no olhar, lançou o seguinte a Oséias:
- Olhe irmão, a sua dedicação e entusiasmo no desenvolvimento dessa apresentação foram louváveis.
Oséias apesar de prever o pior, se sente melhor.
- Mas o chamei aqui, para tratar de um detalhe delicado dessa apresentação, assunto esse que você talvez já tenha em mente.
Oséias sua frio e se agarra à poltrona em que está sentado.
- Você há de convir, que a igreja não é lugar para essas coisas.
Oséias, suando como um porco, e se encolhendo na cadeira como um cão, olha para os lados, imaginando uma fuga fantástica às palavras que estão por vir.
- Essa tal apresentação de slides, datashow, seja lá como chamam, não condiz com o ambiente evangélico, melhor ser deixado em escolas ou reuniões empresariais, que são o seu lugar, certo?
Oséias mal podia acreditar, todo o peso e angústia de seu corpo se foram como álcool em chão quente, o pastor, afinal, não havia visto o vergonhoso dispositivo de armazenamento; concordou com todas as anedotas do pastor, e já ia se retirando da sala, quando esse o chamou novamente:
- Ah, e Oséias, eu já havia ouvido falar desses tais pênis drive, mas ainda assim, o aconselho a procurar um que não se pareça tanto com um cacetinho.
Oséias foi ao chão, completamente sem sentidos.